Saiba como é a experiência de uma pessoa sedentária ascendendo a montanha
Um passo de cada vez. Respiradas profundas. Bastão coordenados com os pés. A neve no chão nos faz deslizar. Vou olhando para baixo. Em frente está o guia e, mais atrás, uma das nossas acompanhantes de subida segue lenta. Ela fuma e cansa mais rápido. Senta e descansa. Bebe água. Paramos. “Já estamos na metade?”, pergunto ao guia. Ele ri e diz que estamos subindo há apenas 19 minutos e que são pelo menos 1h30 de caminhada. Respiro fundo. Parecia ter passado mais tempo e também já estou cansado.
Mas a gente segue rumo ao topo. Caminho e me divirto com a neve que eu vejo pela primeira vez. Pego bolas e lanço contra as pedras. Vamos em silêncio. O ar falta. Alguns trechos deslizam mais. Noutros, a neve – presente apenas em alguns meses do ano – encobriu o caminho. A subida parece não terminar. Perto do topo, os pés parecem não respeitar o comando de seguir. Um pensamento me trai e desejo ficar numa pedra. “E se eu esperasse o grupo aqui?”. Não. Sigo. “Quero chegar ao topo!”, reforço mentalmente.
O guia percebe que a gente diminui os passos e incentiva: “Vamos pessoal: só faltam dez minutos. O visual daqui de cima é lindo”. Subimos. E ele tinha razão. Do alto, é possível admirar a Lagoa Branca, já na Bolívia. Mas ainda há um trecho a mais que nos separa dos 5,6 mil metros. E seguimos para lá. Uma bandeira inca marca o cume. A vista é inspiradora: os vulcões Juriques e Licancabur em todo o seu esplendor. Ambos nevados, grandiosos e emanando uma cumplicidade de dois irmãos que vivem juntos há milhares de anos.
Do carro até aqui foram 2,5 quilômetros. Ele nos deixou aos 5,2 mil metros, mas as curvas tornam o caminho maior. Com as paradas, a subida durou 1h40, 1h20 só subindo – o restante de descanso, a maior parte pelo ritmo da amiga fumante. A sensação de conquista é inevitável. Tiramos fotos no ponto mais alto onde o vento dita o tempo e baixamos um pouco para comer as frutas, barras de cereal e beber um pouco da água que nos acompanha. Eu deito e pego no sono. A sensação foi de que muito tempo passou, mas foram apenas dez minutos.
A descida é muito mais tranquila que a subida. Pegamos um atalho e vamos deslizando na neve. São 30-40 minutos voltando ao carro. Fora o cansaço e falta de ar, que nos atingiu no caminho, ninguém teve problemas com altitude (dor de cabeça, tontura). Os meus companheiros de subida disseram que eu parecia andando pela (Rua) Caracoles de tão tranquilo. Não foi tão fácil assim, mas o sentimento final é de que vale muito a pena e de que qualquer pessoa pode fazer (até eu que sou sedentário e tinha dormido menos do que o recomendável dois dias antes e mesmo a amiga fumante que ao descer decidiu que vai fumar menos). Vale o desafio.
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